A profecia de Jabor ou Marcola como propaganda do Brasil sem jeito

Miguel Willalba Sánchez (Elchicotriste)
Miguel Willalba Sánchez (Elchicotriste)

Voltou a circular na internet uma falsa entrevista de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, um dos supostos chefes do PCC, Primeiro Comando da Capital [de São Paulo], uma invisível organização criminosa que teria atuação em vários Estados do Brasil e países estrangeiros, notadamente da América do Sul.

É uma entrevista sempre divulgada nos anos eleitorais, com as devidas alterações para beneficiar candidatos a presidente da República,  governadores, prefeitos das grandes cidades, e a chamada bancada da bala.

Para dar veracidade, uma entrevista concedida, em data desconhecida, a um jornalista da Globo, cujo nome não é revelado.

Os principais jornais já publicaram centenas de depoimentos, esclarecimentos jamais concedidos por Marcola, incomunicável em cela individual de presídio de segurança máxima.

GLOBO: Você é do PCC?
– Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível… vocês nunca me olharam durante décadas… E antigamente era mole resolver o problema da miséria… O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias… A solução é que nunca vinha… Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a “beleza dos morros ao amanhecer”, essas coisas… Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo… Nós somos o início tardio de vossa consciência social… Viu? Sou culto… Leio Dante na prisão…

GLOBO: – Mas… a solução seria…
– Solução? Não há mais solução, cara… A própria idéia de “solução” já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma “tirania esclarecida”, que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC…) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até conference calls entre presídios…). E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução.

Comenta o Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Goiás – SINPOL-GO:

Uma “LIÇÃO” para nós brasileiros

 (…) O marginal “Marcola’’, concedeu a um jornalista de “O Globo”, uma análise estarrecedora dos “novos tempos”, [realidade] se faz presente na vida de todos os brasileiros.

Pelo depoimento do marginal “Marcola”, não há solução, pois não conhecemos nem os problemas.

Gostaria de chamar a atenção de vocês, para o fato desta entrevista ter sido publicada em um dos maiores jornais desse país, e que “todas as autoridades”  tomaram conhecimento da “gravidade” do assunto.

E o que estamos vendo… Exatamente o que o marginal “Marcola” profetizou… e o mais estarrecedor, que nada de concreto esteja sendo feito… vide a atitude irresponsável do governador de São Paulo, negando-se a receber ajuda do Governo Federal.

Genildo
Genildo

Informa o Diário do Estado do Mato Groso do Sul:

Adonis Marcos é o primeiro político a comentar entrevista com Marcola

Portal 19: Por que você, Adonis Marcos decidiu falar sobre um tema tão delicado que muitos preferem se omitir?

Não vi nenhum político aparecer e refutar o que Marcola disse na entrevista. Não se é medo ou apenas incompetência. De maneira alguma faço apologia ao crime organizado. Falo como político e ser humano. Preciso falar sobre esse tema delicado. Marcola diz que não há solução para o país, nem para as favelas. Mas existe dinheiro para resolver os problemas de todos os estados. Temos bons projetos, mas muitos políticos brasileiros a pobreza sempre foi de grande ajuda para se angariar votos. Sempre existirá o pai dos pobres, o salvador da pátria. Não querem ajudar. As favelas de hoje são os quilombos de ontem. Os escravizados e demais pessoas com graves problemas sociais rumaram para os morros para terem um lugar para morar, devido a omissão dos governos. Acabar com as favelas é acabar com votos. Mas não precisa tirar a pessoa da comunidade que tanto ama, apenas mudar a consciência dela”.

Portal 19: A situação calamitosa da maioria das favelas brasileiras tem solução?

“Qual a educação que o jovem da favela tem? Qual a visão que ele tem do local onde vive? Quem vai dar emprego para o jovem? O traficante, que vai pagar muito bem. O governo não age com firmeza, e o tráfico reina nas comunidades carentes. É mais vantajoso ser um soldado do tráfico a trabalhar numa loja ou empresa. Isso se ele conseguir uma vaga. Por morar na favela o preconceito pode tirar o meio de sustento de uma pessoa honesta, que pensa apenas em trabalhar honestamente. Mas forçada pela miséria, o traficante a seduzirá com poder e dinheiro”.

Portal 19: Qual a relação de políticos do cenário nacional em relação ao PCC?

Políticos de Brasília devem ao PCC, favores e dinheiro. Estão atrelados aos criminosos. Como podem lutar contra essa organização dentro do Congresso Nacional, no Senado? E para agravar o problema, os criminosos mesmo encarcerados podem realizar vídeo conferência com os comparsas espalhados pelos presídios do Brasil. O que aumenta o poder dos líderes. O ser humano acredita no deus que ele vê, ao visualizarem o Marcola, a figura desse líder aumenta. Facilmente um detento consegue adquirir internet e um computador, devido a corrupção existente nas cadeias brasileiras”.

PCC Rota polícia celular

A FALSA ENTREVISTA DE

MARCOLA FOI ESCRITA POR

JABOR

Continuando com a entrevista:

GLOBO: – Você não têm medo de morrer?
– Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar… mas eu posso mandar matar vocês lá fora…. Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba… Estamos no centro do Insolúvel, mesmo… Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração… A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala… Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em “seja marginal, seja herói”? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha… Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante… mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem.Vocês não ouvem as gravações feitas “com autorização da Justiça”? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.
GLOBO: – O que mudou nas periferias?
– Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório… Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no “microondas”… ha, ha… Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Você s, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.
O GLOBO: – Mas o que devemos fazer?
– Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas… O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz, “Sobre a guerra”. Não há perspectiva de êxito… Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas… A gente já tem até foguete anti-tanques… Se bobear, vão rolar uns Stingers aí… Pra acabar com a gente, só jogando bomba atômica nas favelas… Aliás, a gente acaba arranjando também “umazinha”, daquelas bombas sujas mesmo. Já pensou? Ipanema radioativa?
GLOBO: – Mas… não haveria solução?
– Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a “normalidade”. Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco…na boa… na moral… Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos dele e vocês… não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: “Lasciate ogna speranza voi cheentrate!” Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno.
Sergei Tunin
Sergei Tunin

As máfias sempre defendem as ditaduras, a igreja, a família tradicional. São conservadoras e direitistas.

Sobre a entrevista de Marola, revelou Arnaldo Jabor:  “Eu escrevi nos jornais uma coluna em que inventei uma entrevista imaginária com um traficante preso do PCC. Na entrevista o personagem de ficção critica o Brasil de hoje e denuncia os erros das polícias e da sociedade. É um texto do qual eu me orgulho. É legal o texto. E todo mundo gosta, mas não acreditam que fui eu que fiz. Acham que é real a lucidez do bandido.”

O texto de Jabor, publicado em sua coluna de 23.05.2006 no jornal O Globo, vai sendo alterado conforme diferentes interesses políticos.

Não acredito no mando de um preso incomunicável. Marola constitui uma invenção da polícia para criar uma legenda de medo. Para informações comoventes e heróicas tipo governador Alckmin foi ameaçado de morte.

As favelas votam. São 1.100 favelas no Rio de Janeiro capital, e 2. 627 em São Paulo capital. Os favelados votaram em que candidatos nas últimas eleições para governador e prefeito?

Quem domina as favelas: os traficantes, as milícias, as polícias civil e militar?

Publica o jornal da OAB do Rio Grande do Sul: Voltou a circular, na Internet, uma entrevista, supostamente concedida pelo bandido“Marcola” a Arnaldo Jabor e que teria sido publicada pelo jornal O Globo, sem data e sem maiores referências. O texto na realidade foi ao ar, semanas atrás,  na Rádio CBN.

É puramente fictício, apenas mais uma crónica do Jabor. É possível ouvir o áudio em http://www.cbn.com.br. A entrevista, óbvio, não é verdadeira, mas assim mesmo é interessante (e preocupante). A entrevista ficcional revela o pavor do cidadão médio (medianamente intelectualizado) com o que está acontecendo e, ao mesmo tempo, uma certa consciência ingênua do papel do Estado. E revela também, infelizmente, uma certa visão autoritária (ao sugerir “uma ´tirania esclarecida´, que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo… e do Judiciário…”).

Independentemente da veracidade, o texto é um sintoma preocupante, um sinal alarme. Se não foi “Marcola”, alguém pensou, falou ou escreveu isso, que está tendo eco na medida em que os que recebem a falsa mensagem, a replicam voluntariamente.

Essa sensação atinge, especialmente desde sexta-feira, os operadores do Direito ao constatarem, como efeitos da “Operação Hurricane” que, mais uma vez, magistrados de tribunais superiores, policiais e advogados  fazem parte de um esquema de um ativo e potente esquema de corrupção.

E que não são teses jurídicas ou respeito ao direito que sustentam e concedem certas liminares – mas que estas tem íntima ligação com polpudas propinas. É a história do “me dá$ que eu te concedo…”

Publicado por

Talis Andrade

Jornalista, professor universitário, poeta (13 livros publicados)

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