Rolezinho devem acontecer sim, do jeito que rolam em diferentes partes do mundo: para combater o isolamento, a falta de locais de lazer dos jovens pobres.
No Brasil, os rolezinhos nasceram para combater o apartheid dos jovens negros e pardos, que vivem cercados nos cortiços do centro e nas favelas das periferias das grandes cidades. Presos nos guetos e favelas.
Não há locais de lazer para o povo, além das praias fluviais e marítimas. Recife é uma cidade que não tem nenhum passeio público, e o espaço urbano da capital pernambucana está todo grilado pela especulação imobiliária. Veja o escândalo desta manchete bem demonstrativa do descaso da prefeitura de Cuiabá:
Vários prefeitos – com a desculpa de fazer caixa – vendem terrenos baldios, ruas e praças para as construtoras. Ainda no Recife, temos a Bacia do Pina toda destinada para o rasga céu de pavorosas torres, e o rasga verde da destruição dos manguezais, inclusive para a construção de uma autopista, com investimento de meio bilhão de reais do governo, para beneficiar um empreendimento privado, oficializando o tradicional abuso da violentação dos shoppings em bairros residenciais.
Os rolezinhos contra o apartheid nos shoppings recebem da imprensa elitista e patronal manchetes terroristas, reverberando ameaças da polícia e da justiça.
Shopping não é local para comício. A simples presença do jovem negro uma chocante e reveladora denúncia contra o racismo, a prova de que o aparheid existe. Outros tipos de protestos sejam organizados, principalmente, nas ruas e praças.
Dos prefeitos a obrigação de construir hortos e parques; passeios públicos e praças; centros culturais e desportivos.
O Brasil não investe em lazer. E nada se faz que preste para o povo.

Rolezinho rola até Não Vai Ter Copa
JOANA GORJÃO HENRIQUES (TEXTO) E VERA MOUTINHO (VÍDEO)
Um enorme centro comercial, Iguatemi do Lago Norte, o mais frequentado pela classe alta de Brasília, fecha as suas lojas de luxo a um sábado à tarde. Fica cercado por polícia e por homens que olham de frente quem se aproxima. No lado de fora, um grupo de não mais de duas dezenas de rolezeiros — muitos deles estudantes universitários, alguns de juventudes partidárias e uns quatro jovens da periferia – saca de uma coluna de som, e põe a tocar funk e até o Geração Coca-Cola dos Legião Urbana. Num terceiro grupo, uma dezena de jornalistas sentados na relva tecla ao computador.
Em Junho, isto chamar-se-ia protesto, hoje chamou-se rolezinho e foi marcado no Facebook por um grupo de amigos activistas (entre eles Pilar de Freitas, Serginho Lopes e Franklin Rabelo de Melo, que irão conhecer numa das nossas reportagens): quiseram estar solidários contra a violência policial exercida em rolezinhos passados. Rolezinhos são encontros marcados pelas redes sociais entre jovens da periferia para irem passear dentro do centro comercial, juntando às vezes grandes grupos, e estalou um polémica recentemente porque alguns shoppings em São Paulo barraram a entrada a jovens e por a polícia ter usado balas de borracha e violência.
De manhã, os jornais tinham anunciado que o shopping Iguatemi iria fechar, portanto a organização já estava à espera que não aparecesse muita gente. Mas o aparato policial dá afinal ainda mais força a quem o organizou: o gigante tem medo do anão e protege-se na sua fortaleza accionando a segurança máxima. Passada uma hora e meia, e com um protesto Não Vai Ter Copa marcado para as 17h no Brasília Shopping, desliga-se a música, arruma-se o megafone, e os rolezeiros rolam nos seus carros até ao Não Vai Ter Copa. Se estavam mais de 50 manifestantes ao todo, contando com os do rolezinho, era muito. Já de polícia e polícia militar, o número era bem maior. Para os rolezeiros, o dia já tinha sido ganho.
Ouçam a Mácia Teixeira: Vídeo de Vera Moutinho

“Se estavam mais de 50 manifestantes ao todo, contando com os do rolezinho, era muito. Já de polícia e polícia militar, o número era bem maior. Para os rolezeiros, o dia já tinha sido ganho.”
Bom artigo!