por Talis Andrade
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Saudades dos tempos
do Brasil romântico
Do desmaio epilético
de Pedro I
ao ver Amélia
Dos sonetos de amor purus
de Pedro II
Do desmaio apoplético
de marechal Hermes
ao ver Teffé
na luminosidade
de uma tarde
ensolarada
.
Saudades dos tempos
do Brasil romântico
João Pessoa morto
porque veio ao Recife
ao encontro venéreo
de uma cantora
de opera
.
Saudades dos amores
invertidos do ditador de 37
Dos amores secretos
do presidente que transou
o belo travesti dando
de presente a operação
de mudança de sexo
.
Saudades dos amores
do Brasil romântico
as vedetes suspirando
pelo topete de Itamar
.
Mudado moderno tempo
Os políticos disputam
no paredão do Grande Irmão
as garotas de Jeany a cafetina
de belas meninas que aliviam
o mortório semanal
de passar três dias no vazio
na solidão noturna
dos palácios de Brasília
cidade dormitório capital
do gigante adormecido
em um berço esplêndido


Belo Poema!
Eu vou retorquir com uma poesia de humor…
“A Água”
Meus senhores eu sou a água
que lava a cara, que lava os olhos
que lava a rata e os entrefolhos
que lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está vago
pois lava as mamas e por onde cago.
Meus senhores aqui está a água
que rega a salsa e o rabanete
que lava a língua a quem faz minete
que lava o chibo mesmo da raspa
tira o cheiro a bacalhau rasca
que bebe o homem, que bebe o cão
que lava a cona e o berbigão.
Meus senhores aqui está a água
que lava os olhos e os grelinhos
que lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes lutas
que lava sérias e lava putas
apaga o lume e o borralho
e que lava as guelras ao caralho
Meus senhores aqui está a água
que rega rosas e manjericos
que lava o bidé, que lava penicos
tira mau cheiro das algibeiras
dá de beber ás fressureiras
lava a tromba a qualquer fantoche e
lava a boca depois de um broche.
“A Água”, de Manuel Maria Barbosa du Bocage.