«Uma podridão envernizada: esta é a vida do corrupto.
“Mas que diferença há entre pecar e escandalizar? Qual é a diferença entre cometer um pecado e fazer algo que causa escândalo e faz mal, muito mal?”. A diferença, disse o Papa Francisco, é que “quem peca e se arrepende pede perdão, sente-se frágil, sente-se filho de Deus, humilha-se e pede a salvação de Jesus. Mas quem dá escândalo não se arrepende e continua a pecar e finge que é cristão”. É como se levasse uma “vida dupla” e, acrescentou, “a vida dupla de um cristão faz muito mal”. “Onde há engano – comentou o Papa Francisco – não há o Espírito de Deus. Esta é a diferença entre pecador e corrupto. Quem leva uma vida dupla é um corrupto. Quem peca, ao contrário, gostaria de não pecar, mas é débil ou encontra-se numa condição na qual não pode achar uma solução mas vai ter com o Senhor e pede perdão. A este o Senhor ama, acompanha-o, está com ele. E nós devemos dizer, todos nós que estamos aqui: pecadores sim, corruptos não”. Os corruptos, explicou o Papa, não sabem o que é a humildade. Jesus comparava-os com os sepulcros caiados: bonitos por fora mas dentro cheios de ossos podres. “E um cristão que se vangloria de ser cristão mas não leva uma vida cristã – frisou – é um corrupto.
Todos conhecemos alguém que “está nesta situação e sabemos – acrescentou – quanto mal fazem à Igreja os cristãos corruptos, os sacerdotes corruptos. Quanto mal fazem à Igreja! Não vivem no espírito do Evangelho, mas no espírito da mundanidade. E são Paulo diz claramente aos romanos: Não vos conformeis com este mundo (cf. Rm 12, 2). Mas no texto original é ainda mais forte: não entreis nos esquemas deste mundo, nos parâmetros deste mundo, porque são precisamente estes, esta mundanidade, que levam à vida dupla”.
Na conclusão o Papa disse: “Uma podridão envernizada: esta é a vida do corrupto. E a estes Jesus não lhes chamava simplesmente pecadores. Mas dizia-lhes: hipócritas”. Jesus, recordou ainda, perdoa sempre, não se cansa de perdoar. A única condição que pede é que não queiramos levar esta vida dupla: “Peçamos hoje ao Senhor que evitemos todos os enganos, que nos reconheçamos pecadores. Pecadores sim, corruptos não”.
Na missa celebrada na sexta-feira, 8 de Novembro, o Papa Francisco – ao propor uma reflexão sobre a figura do administrador desonesto descrita no trecho litúrgico do Evangelho de Lucas (16, 1-8) frisou que os administradores corruptos “devotos da deusa ilegalidade” cometem um pecado grave contra a dignidade” e dão de comer aos próprios filhos “pão sujo”: a esta “astúcia mundana” deve-se responder com a “astúcia cristã” que é “um dom do Espírito Santo”.
“O Senhor – disse o Papa – volta a falar-nos do espírito do mundo, da mundanidade; como age esta mundanidade e quanto é perigosa. E Jesus, precisamente ele, na oração depois da ceia da quinta-feira santa, rezava ao Pai para que os seus discípulos não caíssem na mundanidade”, no espírito do mundo.
O administrador descrito na página evangélica é “um exemplo de mundanidade. Algum de vós – fez notar o Pontífice – poderá dizer: mas este homem fez o que todos fazem”. Na realidade, “nem todos!”; este é o modo de agir de “alguns administradores do governo. Talvez não sejam muitos”. Em suma, “é um pouco daquela atitude do caminho mais breve, mais cómodo para ganhar a vida”. O Evangelho narra que o homem rico “elogiou aquele administrador desonesto”. E este – comentou o Papa – “é um louvor à ilegalidade. O costume da ilegalidade é mundano e muito pecador”. Certamente, é um hábito que nada tem a ver com Deus.
Com efeito, prosseguiu, “Deus deu-nos este mandamento: levar o pão para casa com o nosso trabalho honesto”. Ao contrário, “este administrador dava aos seus filhos pão sujo. E os seus filhos, talvez educados em colégios caros, talvez crescidos em ambientes cultos, tinham recebido do seu pai sujidade como alimento. Porque o seu pai levando para casa pão sujo tinha perdido a dignidade. E este é um pecado grave”. Talvez, especificou o Papa, “se comece com um pequeno suborno, mas é como a droga”. E mesmo se o primeiro suborno é “pequeno, depois vem outro e outro ainda; e acaba-se na doença da dependência da ilegalidade”.
Mas há outro caminho, o da “astúcia cristã” – “entre aspas”, disse o Papa – que permite “fazer as coisas com um pouco de rapidez mas não com o espírito do mundo. O próprio Cristo o disse: astutos como as serpentes, puros como as pombas”. Combinar “estas duas” realidades é “uma graça” e “um dom do Espírito Santo”. Por isso, devemos pedir ao Senhor que sejamos capazes de praticar a “honestidade na vida, aquela honestidade que nos faz trabalhar com rectidão, sem entrar nesse círculo”.
Deus é um pai “que não gosta de perder”. Ele procura, com alegria e “com esmero de amor”, as pessoas perdidas, suscitando muitas vezes “a música da hipocrisia murmuradora” dos conservadores. Foi a chave de leitura sugerida pelo Papa Francisco na homilia da missa celebrada na manhã de quinta-feira, 7 de Novembro. O Pontífice iniciou a sua meditação descrevendo precisamente a atitude dos fariseus e dos escribas que estudavam Jesus “para compreender as suas acções”, escandalizando-se com as “coisas que ele fazia. E escandalizados murmuravam contra ele: mas este homem é um perigo!”. Escribas e fariseus, explicou o Santo Padre, pensavam que Jesus era um perigo. Eis porque na sexta-feira santa “pedem a sua crucificação”. E ainda antes – recordou – chegaram a dizer: “É melhor que um só homem morra pelo povo e que não cheguem os romanos. Este homem é um perigo!”.
O que mais os escandalizava, rematou o Papa Francisco, era ver Jesus “almoçar e jantar com os publicanos e os pecadores, falar com eles”. Disto nascia a reacção: “Este homem ofende a Deus, desconsagra o ministério do profeta que é um ministério sagrado”; e “desconsagra-o para se aproximar destas pessoas”.