Após denunciar assédio, Mariana Ceccon deixa a CBN

Depois de escrever e publicar extensa carta sobre os casos de assédio sexual na rádio CBN Curitiba, a estudante de jornalismo Mariana Ceccon deixou a emissora. A jovem, que era estagiária, falou sobre o assunto por meio de sua a página pessoal no Facebook, espaço que explicou os motivos para a decisão.

“Hoje foi um dia mais difícil do que ontem. Encerrei meu ciclo na Rádio CBN. Não porque eu concorde que eu SOU OBRIGADA MORALMENTE a sair do emprego (eu não sou obrigada a abrir mão de pequenas conquistas por falta de ética de outros funcionários) e sim porque hoje eu tive a certeza que eu fiz tudo o que estava ao meu alcance para melhorar a minha situação e a dos meus colegas”, disse.

A história sobre os casos de assédio foi revelada no começo deste mês, quando a situação foi denunciada pelos próprios jornalistas da emissora. No texto escrito por Mariana e divulgado nesta semana, ela relata o que aconteceu e afirmou que as acusações são contra o ex-deputado federal e jornalista Airton Cordeiro, comentarista esportivo da casa. Para ela, “não existe nada pior para um jornalista do que ter a credibilidade suja, a honra julgada e a moral extirpada”. Até o momento, Cordeiro, que está afastado de suas atividades na emissora, não se pronunciou sobre o assunto.

Veja abaixo o relato de Mariana sobre sua saída da CBN:

Hoje foi um dia mais difícil do que ontem. Encerrei meu ciclo na Rádio CBN. Não porque eu concorde que eu SOU OBRIGADA MORALMENTE a sair do emprego (eu não sou obrigada a abrir mão de pequenas conquistas por falta de ética de outros funcionários) e sim porque hoje eu tive a certeza que eu fiz tudo o que estava ao meu alcance para melhorar a minha situação e a dos meus colegas. Hoje o dia foi triste porque sinto muito em deixar a rádio, sinto muito em deixar o convívio dos meus colegas que sempre foram exemplares comigo. Sinto muito em deixar um lugar que eu sempre desejei trabalhar. Mas espero um dia voltar a ralar com pessoas tão bacanas quanto as da CBN. Agradeço principalmente a Karina Lançoni Bernardi, por todos os conselhos, paciência e amizade! Aprendi muito com você Ká, principalmente a não entrar em desespero, por mais que faltem 5 minutos para o jornal entrar e ainda não tenha entrevistada fechada!

Obrigado pela convivência e até uma próxima!

Fonte: Comunique-se Com.

Publicou Mariana Ceccon: Diante de toda esta situação me alegro por vários motivos. Recebi centenas de mensagens, todas com vibrações positivas, mensagens de apoio e realmente emocionantes. Isto é a coisa que me deixa mais feliz. Agradeço a todos que entraram em contato comigo e faço questão de responder cada mensagem positiva (e também a única negativa que recebi).

No meio de tantas mensagens perdi a conta de quantas mulheres, em grande parte jornalistas, me procuraram para dizer que sofrem com isto constantemente. Sabendo disto, a professora Rosiane Correia De Freitas (que eu acabei de conhecer) me enviou o link da página Meu nome não é flor. Ela reúne depoimentos anônimos de outras mulheres do jornalismo que já sofreram com assédio e violência no exercício da profissão. São depoimentos anônimos porque, como me explicou a professora, o objetivo não é denunciar e sim criar um clima de solidariedade entre as mulheres que se sentem tão sozinhas nessa situação.

Para quem interessar e para todas que se abriram comigo fica ai a dica.

Transcrevo algumas das centenas de mensagens recebidas por Mariana Ceccon. É impressionante as denúncias que elas contém:

  • Tirza Loblein Muita força desde o Paraguai Mariana !
  • Rafael Correa Silva Já passou da hora dos poderosos sentir a força da justiça!! Parabéns pela sua atitude!!!
  • Leonardo Lima Como disse ao Wille, obrigado por enriquecer meus exemplos nas humildes aulas de Ética que ministro nas escolas, para as crianças, Mariana. Gente de verdade, fazendo a coisa certa, toca no coração das mentes jovens, obrigado pela ajuda!!!
  • Flavia Toffoli Versolato Meu apoio integral! Já passei por problema muito parecido no final dos anos 70, era foquinha total no Jornal Gazeta Mercantil. Muito difícil, pois os tempos eram outros e muito piores… e passou. é de indignar!
  • Raffaela Porcote Mariana, sou estudante de jornalismo também e acompanhei seu caso superpreocupada, pensando muito em você. Há uma cultura machista que tenta culpabilizar a mulher pela falta de caráter dos homens e, putz, essa semana mesmo fui vítima de ameaças e tentativa de agressão na faculdade por dizer o que penso, sem ofender ninguém. Eu quero dizer a você que não se abale, gata. Há muita gente lhe apoiando. A luta deixou de ser sua. É nossa! Você é muito forte, não permita que ele faça com que você se sinta culpada e diminuída. Força, gata! Tenho muito respeito pela sua postura. Não vamos deitar pra essa gente…
  • Rosiane Correia De Freitas Meninas (Raffaela Porcote e Flávia), passem lá no Meu nome não é flor. É importante que esses registros sejam feitos mesmo que anonimamente
     Karina Lançoni Bernardi Mari, obrigada pelo companheirismo neste período em que esteve na CBN (período que sabemos que não foi nada fácil), fico feliz em poder ter te passado um pouco do que aprendi na profissão. Quero que saiba, assim como te falei ontem, que você já é uma ótima jornalista e que com certeza ainda trabalharemos juntas….. Parabéns mais uma vez pela coragem e dignidade, acompanhei os desdobramentos até a publicação da sua carta e te digo que você teve muita maturidade e serenidade para tratar o assunto….. Sentirei saudades!
    P.S.: Só criei o link Mariana Ceccon depois que ela escreveu a corajosa carta. Inclusive para ressaltar a integridade e exemplar solidariedade de companheiros de redação.  Mariana, valeu. Os assédios sexual e moral continuam nas redações. Basta a humilhação do salário (T.A.)

Publicado por

Talis Andrade

Jornalista, professor universitário, poeta (13 livros publicados)

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