A abundância da produção de alimentos no mundo inteiro permitiria dar de comer a toda a população do planeta. No entanto, ainda hoje milhões de pessoas sofrem e chegam a morrer de fome. Trata-se de um verdadeiro escândalo, que se manifesta na indiferença total. Foi quanto reiterou o Papa Francisco, dirigindo um discurso aos participantes na trigésima oitava conferência da Organização das Nações Unidas para para a Alimentação e a Agricultura (Fao).

As iniciativas e as soluções possíveis são numerosas, e não se limitam ao aumento da produção. Sabe-se que a produção actual é suficiente, e no entanto ainda existem milhões de pessoas que sofrem e morrem de fome: estimados amigos, isto constitui um verdadeiro escândalo! Então, é necessário encontrar os modos para que todos possam beneficiar dos frutos da terra, não apenas para evitar que se alargue o fosso entre quantos são mais abastados e aqueles que se devem contentar com as migalhas, mas também e sobretudo para uma exigência de justiça e de equidade, bem como de respeito devido a cada ser humano.
Na minha opinião, o sentido deste nosso encontro consiste em compartilhar a ideia de que se pode e se deve fazer algo mais para dar vigor ao esforço internacional a favor dos pobres, animados não apenas de boa vontade ou, o que é pior ainda, por promessas que muitas vezes não foram mantidas. Também não se pode continuar a aduzir como álibi, um álibi quotidiano, a actual crise global, da qual de resto não será possível sair completamente, enquanto as situações e condições de vida não forem consideradas através da figura da pessoa humana e da sua dignidade.
Pessoa e dignidade humana correm o risco de se tornarem uma abstracção diante de questões como o uso da força, a guerra, a subalimentação, a marginalização, a violência, a violação das liberdades fundamentais ou a especulação financeira, que neste momento condiciona o preço dos alimentos, tratando-os como qualquer outra mercadoria, esquecendo-se do seu destino primário. A nossa tarefa consiste em voltar a propor, no actual contexto internacional, a pessoa e a dignidade humana já não como uma simples referência, mas sobretudo como pilares sobre os quais construir regras que sejam compartilhadas e estruturas que, ultrapassando o pragmatismo ou os simples dados técnicos, sejam capazes de eliminar as divisões e preencher as lacunas existentes. Neste mesmo sentido, é necessário contrastar os interesses económicos míopes e as lógicas de poder de poucos, que excluem a maioria da população mundial, gerando pobreza e marginalização com efeitos desagregadores na sociedade, assim como se deve combater aquela corrupção que produz privilégios para alguns e injustiças para muitos.
(Transcrevi trecho do discurso do Papa Francisco)