por Luis Fernando Mifô
Alguns dos maiores trunfos de um cidadão para evitar que ele seja manipulado são a consciência, o senso crítico, a informação e o cuidado na hora de absorvê-la. O que quero dizer com isso? Bem, é fato que muitas das pessoas que estão participando das manifestações desde que elas começaram há mais de uma semana, inclusive as que participaram ontem em Cajazeiras-PB, não têm uma exata noção de por que estavam ali, o que está realmente acontecendo nesse momento no Brasil, quais as vantagens dessa mobilização e quais os perigos que ela anuncia, pelo que exatamente estamos lutando e de que maneira devemos lutar. E é aqui que se apresentam os riscos. Mobilizações populares aleatórias, indefinidas, inconsequentes, sem pautas organizadas, sem unidade, é um prato cheio para golpes de todas as espécies, golpes midiáticos, golpes políticos e, o pior deles, golpes militares. Um alienado que fica em casa com a bunda no sofá achando que está tudo bem enquanto assiste ao jogo da seleção, não é tão diferente do sujeito que vai para a manifestação apenas pelo ôba-ôba, para pintar a cara e desfilar com cartazes. Estar bem informado e consciente é importante para saber que rumos a mobilização está tomando e, consequentemente, que rumos o país pode tomar por causa dela. Além disso, ajuda a identificar os infiltrados. O papel desses tais infiltrados é estabelecer a desordem no movimento. Para isso eles estampam suas bandeiras partidárias, alguns promovem quebra-quebras e vandalismos. Para isso eles confundem as informações. Criam movimentos falsos e fascistas. Desviam a rota da caminhada. Dividem a massa em outros grupos. A intenção dessas e outras ações é promover um certo caos, que se tomar proporções insustentáveis, abre as portas para uma Direita que, historicamente, usa sempre a mesma justificativa para armar um golpe: restabelecer a ordem.
Tem muita gente, inclusive eu, temeroso de que essa violência que tomou conta das manifestações, promovida por grupos menores, é verdade, esteja sendo articulada por forças superiores. Se a intenção é um golpe militar, não sabemos. Se isso pode acontecer novamente no Brasil, em pleno século 21, vai saber! Seja o que for, nossa preocupação agora (que eu posso chamar, em termos gerais, de próximo passo) é nos tornar cada vez mais cidadãos politizados para compreendermos melhor as articulações da Esquerda e da Direita e saber como podemos rechaçar possíveis tentativas de golpes, seja qual for a espécie. Vamos além. Nos tornemos cidadãos mais politizados para cobrar com razão e conhecimento de causa nossos direitos, para reivindicar nossos deveres e os deveres dos políticos que elegemos, para sabermos se e onde estão aplicando os impostos que pagamos, para cobrarmos nosso troco. A corrupção da classe política, da mídia e o empobrecimento da nossa cultura só chegou a esse ponto que vivenciamos hoje porque nós permitimos. Nós, durante décadas alienados em nossos sofás, gritando gol, rebolando a bunda, lendo a Veja, a Capricho, ouvindo toda sorte de merdas nas emissoras de rádios e iPods da vida, vendo toda sorte de bostas na TV, donas das nossas salas, burgueses ou não. (Transcrevi trechos)