Octógono da solidão (Sessão de blues)

por Cristina Moreno de Castro

Cristina Moreno de Castro
Cristina Moreno de Castro

 

VIII

 

Pronto: a lágrima veio.

Desafogar tudo.

Parou por quê?

Chora um pouco, menina

Seus olhos já estão secos e duros

E você arde demais; dói.

Chora, chora, shhhh, chore a chuva

A cinza do céu não foi suficiente só de olhar.

Molha sua alma um pouco

porque ela já está encharcada

Mas vai acabar calcificada.

A ruga não é de preocupação,

É solidão velha e carcomida.

Pronto: agora a lágrima ficou tímida

Voltou para o lago que a abrigara.

Afogue-se toda, então, com uma sanguessuga enterrada na garganta

Cuspa golfadas de sangue

Engolfe-se.

Porque quem busca a solidão ou é louco ou triste

Ou quer se afogar de vez, sem derrubar uma só gota.

Publicado por

Talis Andrade

Jornalista, professor universitário, poeta (13 livros publicados)

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