O Ministério Público Eleitoral do Rio de Janeiro colecionou denúncias e comprovações de abuso de poder político e econômico no estado. Em um balanço sobre as principais irregularidades cometidas este ano, o destaque é para a tentativa de alguns grupos, normalmente ligados aos prefeitos no poder, de desequilibrar o pleito. Não foram poucos os casos no Rio em que candidatos ou integrantes de um partido ofereceram dinheiro em troca de apoio ou da desistência de outras candidaturas.
Silva Jardim e São João da Barra são cidades pequenas, nas quais, muitas vezes, um vereador a mais ou a menos pode definir maioria na Câmara. Em São João da Barra, por exemplo, o Legislativo é composto por nove vereadores. A prefeita Carla Machado, do PMDB, passou a ter maioria quando um deles mudou de lado. Foi aí que ela conseguiu ter cinco na base aliada e quatro contrários. Ela está no comando da cidade há oito anos. Foi na gestão de Carla que começou a construção do Superporto do Açu, empreendimento de Eike Batista. Uma mostra do que significa o investimento para o município, além do derramamento de dinheiro, é o aumento dos atuais 33 mil habitantes para os 200 mil que devem viver em São João até o fim desta década.
Para garantir o poder nessa mina de ouro do norte fluminense, Carla tentou comprar candidatos da oposição para desistirem de concorrer à Câmara dos Vereadores e passarem a fazer parte da aliança do seu candidato a prefeito, José Amaro Martins de Souza, conhecido como Neco. No meio da corrida, três candidatos contrários à base peemedebista abriram mão do pleito. Carla foi flagrada em conversas por telefone discutindo valores com outro candidato, para que ele também desistisse. Ela chegou a dizer que o preço dele estava fora da realidade do mercado, como quem está por dentro dos valores cobrados.
Neco, Carla e o candidato a vice da chapa do PMDB, Alexandre Rosa, foram indiciados pela Polícia Federal por formação de quadrilha e compra de votos. “Na Câmara de Vereadores desses locais, às vezes uma pessoa vale muito”, explica Ribeiro. Oferecer vantagens para que outro candidato mude de lado ou largue a disputa pode não ser feita apenas mediante dinheiro.
No caso da pequena Silva Jardim, de 21 mil habitantes, candidatos desistiram por terem recebido proposta para trabalhar na prefeitura. A polícia desencadeou na cidade a Operação Arreica, com o objetivo de desarticular um esquema de compra de votos e de fraude eleitoral. O MP investiga ainda se houve distribuição de cesta básica em troca de voto – como aconteceu, por exemplo, na favela da Rocinha.
Para o procurador, no entanto, o mais grave abuso de poder político e econômico aconteceu no Rio. O Radar On-Line, do site de VEJA, mostrou que o minúsculo PTN, que sequer tem representação no Congresso Nacional, ganharia 1 milhão de reais para aderir à base de Eduardo Paes. “Ele tem uma coligação de 20 partidos, e pelo menos um representante de uma das pequenas siglas foi gravado falando sobre as motivações que o levaram a desistir de lançar uma candidatura própria”, diz Ribeiro.
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