Em agosto de 1938, o psiquiatra Antonio Vallejo Nágera recebeu um telegrama de Francisco Franco (1936-1975). “Conforme sua mencionada proposta, autorizo a criação do gabinete de investigação psicológica, cuja finalidade primordial será investigar as raízes genéticas do marxismo”, escreveu o general ao médico, formado na Alemanha nazista. Convicto de que a ideologia marxista estava ligada a deficiências mentais, a solução parecia óbvia para o funcionário da ditadura franquista: era preciso separar os bebês de seus pais republicanos rojos, (vermelhos, em português).
O objetivo era evitar a propagação das ideias de esquerda, consideradas um mal pelos nacionalistas espanhóis. Naquele momento, a Espanha criava uma infraestrutura de repressão, e um dos pilares era a separação dos filhos de seus pais opositores. Trinta e cinco anos após o fim do regime, pais, mães, filhos e irmãos lutam para encontrar aqueles que foram vendidos ou entregues com documentos falsos para adoção. Ainda é difícil precisar quantas pessoas foram adotadas ilegalmente, mas o número de vítimas do roubo de bebês pode variar entre 30 mil a 114 mil, segundo estimativas do juiz espanhol Baltasar Garzón e da ONG Anistia Internacional.