Dilma relatou ainda sessões de tortura com choque. “Não se distinguia se era dia ou noite. O interrogatório começava. Geralmente, o básico era choque.”
“Se o interrogatório é de longa duração, com interrogador ‘experiente’, ele te bota no pau de arara alguns momentos e depois leva para o choque, uma dor que não deixa rastro, só te mina. Muitas vezes também usava palmatória; usava em mim muita palmatória. Em São Paulo usaram pouco esse ‘método’. No fim, quando estava para ir embora, começou uma rotina. No início, não tinha hora. Era de dia e de noite. Emagreci muito, pois não me alimentava direito”, relatou.
Em outro momento, ela relata que sofreu hemorragia por conta da tortura. “Quando eu tinha hemorragia, na primeira vez foi na Oban (…) foi uma hemorragia de útero. Me deram uma injeção e disseram para não bater naquele dia. Em Minas, quando comecei a ter hemorragia, chamaram alguém que me deu comprimido e depois injeção. Mas me davam choque elétrico e depois paravam. Acho que tem registros disso no final da minha prisão, pois fiz um tratamento no Hospital das Clínicas.”
Solidão e tortura psicológica
De acordo com os documentos publicados pelos jornais, a presidente relatou momentos de solidão em que temia a morte.
“O estresse é feroz, inimaginável. Descobri, pela primeira vez, que estava sozinha. Encarei a morte e a solidão. Lembro-me do medo quando minha pele tremeu. Tem um lado que marca a gente pelo resto da vida”, disse.
“Tinha muito esquema de tortura psicológica, ameaças. Eles interrogavam assim: ‘Me dá o contato da organização com a polícia?’ Eles queriam o concreto. ‘Você fica aqui pensando, daqui a pouco eu volto e vamos começar uma sessão de tortura.’ A pior coisa é esperar por tortura.”
Sequelas
“Acho que nenhum de nós consegue explicar a sequela: a gente sempre vai ser diferente. No caso específico da época, acho que ajudou o fato de sermos mais novos; agora, ser mais novo tem uma desvantagem: o impacto é muito grande. Mesmo que a gente consiga suportar a vida melhor quando se é jovem, fisicamente, a médio prazo, o efeito na gente é maior por sermos mais jovens. Quando se tem 20 anos o efeito é mais profundo, no entanto, é mais fácil aguentar no imediato.”
“As marcas da tortura sou eu. Fazem parte de mim”, relatou a presidente.
Bilhetes
Na edição desta segunda, os jornais trouxeram ainda a informação de que bilhetes endereçados a Dilma e interceptados pelos militares foram os responsáveis por novas sessões de tortura em Minas.
Os militares acreditavam que Estela (Dilma) teria organizado, no fim de 1969, um plano para dar fuga a Ângelo Pezzuti. Por conta de 22 bilhetes encaminhados para Dilma, ela teria voltado a ser torturada.
Faltam os nomes dos torturadores
A História do Brasil revelará os nomes dos torturadores. Cedo ou tarde. É papel da imprensa realizar o verdadeiro jornalismo investigativo.
Para que se faça justiça. Porque totura nunca mais. Ditadura nunca mais.